Os três maiores inimigos do livro espírita

Por Editora Aliança | 5 de fevereiro de 2024

Para todos nós, que abraçamos a causa do livro espírita, qualquer impedimento à sua produção e divulgação pode parecer impensável.

O livro é, desde o surgimento do Espiritismo, em 1857, a principal mídia para veiculação das ideias da Doutrina Espírita, através dos mais diversos gêneros literários.

Se o Espiritismo é para nós um dos mais importantes recursos para nos desenvolvermos, temos uma dívida de gratidão para os livros espíritas.

Porém, o advento da pandemia de Covid-19, que trouxe radical mudança no panorama das atividades humanas e, em particular, para nós espíritas, tornou evidentes alguns problemas, que já existiam, mas não estavam em evidência.

Para facilitar sua memorização, designaremos os três inimigos do livro espírita como os 3 P’s:

  • P de Pirataria
  • P de Preguiça
  • P de Presunção

Iniciemos pela Pirataria. Sem dúvida a maior veiculação de lives, palestras, encontros, cursos e reuniões através dos meios digitais aproximou o público de muito mais fontes de informação, localizáveis pela Internet.

Porém, tanto na vida digital como na vida física, encontram-se coisas boas e ruins. Sempre houve quem fizesse cópias reprográficas de livros, para não ter que desembolsar o preço nas livrarias. Porém a baixa qualidade das cópias e o custo desse processo, em geral faziam com que não compensasse o crime de lesão aos direitos autorais.

Agora, com as facilidades de digitalização de originais e reprodução de arquivos digitais, surgiu uma avalanche de cópias ilegais de livros em geral.

No caso dos livros espíritas a situação moral é mais grave. Além do desrespeito ao direito de autor, não podemos esquecer que, no meio espírita, é frequente a prática de doação desses direitos para as causas sociais, como instituições de assistência a idosos, crianças, enfermos, descapacitados. Isso faz com que o desvio desses recursos comprometa a sobrevivência de inúmeros necessitados.

O pior é que, por desconhecimento, muitas pessoas são iludidas em sua boa-fé, achando que disponibilizar cópias ilegais de livros espíritas, em formato PDF ou qualquer outro, seria uma forma de contribuir com a divulgação das ideias espíritas.

Além de desconhecerem que se trata de um crime, conforme artigo 184 do Código Penal Brasileiro, “esquecem” que a maioria dos autores de livros espíritas, a começar do conhecidíssimo caso de Chico Xavier, renunciaram aos proventos de direitos autorais em favor de reconhecidas obras de assistência social.

Considerando ainda que a Lei de Justiça é uma das Leis Divinas, nós espíritas temos obrigação de saber que todo desrespeito aos direitos do próximo acarreta a devida ação corretiva pela sabedoria suprema.

E o P da Preguiça? Com tanta fartura de lives, palestras, cursos nas redes sociais nos últimos três anos, devido ao árduo trabalho de excelentes divulgadores da Doutrina Espírita, muita gente se acomodou.

O pensamento mais frequente tem sido: “Para quê estudar? Basta ligar o YouTube que a informação entra sozinha pelos ouvidos...”

A onda de excelentes peças de informação que praticamente invadiu a Internet também veio junto com muitas iniciativas de valor duvidoso. Diversas gravações e registros não primam pela fidelidade às ideias espíritas e muitas outras são elaboradas apenas para aderir à moda dos influenciadores digitais, que buscam holofotes na forma de índices com milhões de likes e seguidores.

A Doutrina Espírita em si não é prejudicada por esse tipo de modismo. Foi Allan Kardec quem afirmou que a verdadeira fé é aquela capaz de se defrontar com a razão, face a face, em todas as épocas. E que a solidez das ideias espíritas é construída com o bom uso do crivo da razão.

Desse modo, compete a cada um “usar a cabeça”. Porém, se a maioria abre a mão da postura de estudar – analisar, questionar, ponderar, comparar, concluir – apenas porque “dá muito trabalho”, evidentemente forma-se uma grande massa iludida por falsos divulgadores, que facilmente a manobram para seus próprios interesses.

Buscar as fontes seguras do conhecimento espírita é buscar os bons livros, que podem estar na mídia digital ou analógica. Informar-se através deles leva a raciocinar para assimilar e, por via de consequência, melhorar-se continuamente. Isso não vem de graça, nem cai do céu.

Agora, o P de Presunção. Esta é a posição do orgulhoso: “Por que vou ler mais? Já sei tudo o que preciso saber! Já estudei tudo o que preciso para ser um bom espírita!”

Tal atitude é presunçosa porque a verdadeira sabedoria é humilde. O grande exemplo do verdadeiro sábio está contido nesta frase de Sócrates: “Só sei que nada sei!”

De fato, para o sincero buscador da verdade, quanto mais se estuda, mais se percebe o que existe para ser compreendido. E isso não se esgota.

Pouquíssimos foram verdadeiros sábios na História. Porém, sinceros estudiosos todos nós devemos ser. Afinal, estamos encarnados com a estrita finalidade de concluir este ciclo e sair dele melhores do que iniciamos.

O próprio Codificador, Allan Kardec, afirmou que o edifício do conhecimento espírita está sempre em construção rumo ao alto, tendo sido seu papel trabalhar no lançamento das bases da Doutrina. Portanto, sempre há o que aprender, e isso é perfeitamente compatível com a humildade sincera da pessoa de bem.

Porém, em vez de caçar culpados pelas dificuldades aos livros espíritas, é preciso fazer uma autoavaliação sincera de nossas atitudes. Basta que nunca cedamos à tentação de usar uma cópia ilegal, que sempre nos esforcemos para estudar e nunca tenhamos a pretensão de achar que sabemos o suficiente.

Pelas nossas atitudes seremos verdadeiros influenciadores de boas práticas.