Será que os jovens espíritas estão lendo menos?

Para quem valoriza o livro como fonte primária do conhecimento espírita e sabe a importância de sua divulgação, esta pergunta é de suma importância.

Refletindo sobre as recentes preocupações expressadas pelas principais lideranças sobre a redução na presença dos jovens nos centros espíritas, e a rápida mudança observada  nos hábitos de leitura da população, amplia-se a gravidade da questão.

Pais e professores têm percebido uma mudança nos hábitos de leituras entre os mais jovens. Uma pesquisa [1] realizada pelo IEDE (Interdisciplinaridade e Evidência no Debate Educacional) constatou que o maior texto lido por 66% dos jovens brasileiros entre 15 e 16 anos não passou de 10 páginas. A base da pesquisa está nos microdados do Pisa 2018, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, um dos principais indicadores sobre o desempenho escolar.

Este dado não pode ser considerado isoladamente. Outros estudos [2] [3] indicam que as crianças brasileiras estão acessando a internet cada vez mais cedo, pois 95% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos usam internet no país, o que equivale a 25 milhões de pessoas. E a grande maioria usa o celular para se conectar.

Talvez seja preciso refazer a pergunta do título. Parece que as crianças e jovens estão lendo menos textos longos e mais textos curtos. Existe maior diversidade e atualidade, porém menos profundidade e menor interesse por conteúdos referenciais.

Além disso, as motivações para ler também mudaram com o tempo. Adolescentes, que antes recebiam indicações de pais e professores, agora são impulsionados por filmes e redes sociais de amigos ou influenciadores.

Com isso, uma importante capacitação que se dava na adolescência pode agora estar sofrendo uma queda preocupante: a habilidade crítica e de aprofundamento das ideias.

Tal desenvolvimento está intimamente associado ao fortalecimento de uma virtude essencial para a vida: a disciplina. Mas primeiro é preciso analisar como se adquire o hábito do estudo, para que possamos ajudar as novas gerações a adquirirem a capacidade de aprendizado.

Em primeiro lugar, o controle do próprio tempo exige treino. É preciso saber escolher os melhores horários do dia e da semana para estudar. O hábito será formado pela regularidade.

Além disso, é importante evitar distrações. O local de estudo deve ser tranquilo, permitindo a concentração sem interrupções.

Mais esforço em autoconhecimento pode indicar qual é o limite de resistência da própria mente. Muitas pessoas afirmam que estudar em blocos de 20 a 25 minutos intercalados por uma pausa de 5 minutos favorece o rendimento (isso é conhecido como a Técnica Pomodoro). Entretanto, isso varia conforme o indivíduo e suas fases de vida.

Também é importante ampliar o leque de interesses, aguçando a curiosidade sobre assuntos variados. Isso também contribui para abrir a mente a novas abordagens sobre temas já conhecidos.

Para melhorar a retenção do que se estuda, recomenda-se constante observação da vida prática e diálogos frequentes com outras pessoas, para descobrir aplicação dos assuntos estudados.

Especificamente tratando de assuntos abordados nos livros espíritas, as questões sobre os valores morais e éticos da sociedade ganham relevância. Vive-se hoje um momento de divergências e debates em redes sociais onde escasseia o bom senso. Além disso, ganham destaque os maus exemplos de conduta nas esferas pública e privada.

A mensagem espírita, nesse momento de mudanças sociais, pode contribuir com o aclaramento das ideias, a humildade nas manifestações e a busca por caminhos que visem o bem de todos.

Outro aspecto que ganha relevância é a valorização da vida. Em momentos de crise existencial a compreensão do sentido da vida pode ajudar na superação das dificuldades.

Estudar as ideias do Espiritismo pode contribuir com a formação das pessoas de bem e com a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

Estes ideais são, sem dúvida, muito caros aos jovens. Sua motivação para melhorar o mundo e buscar a felicidade de todos pode ser estimulada com o estudo das ideias espíritas.

Como vimos, trata-se de desenvolver o hábito do estudo, através de práticas simples e claras. Conversar mais com os jovens sobre estas práticas pode ajudar.

Além disso, é preciso que autores e criadores de conteúdo desenvolvam cada vez mais a capacidade de se expressar com clareza e simplicidade. Mensagens diretas em vídeos e podcasts, textos construídos com frases simples e diretas, clareza nas ideias escritas e faladas são elementos de valor para o texto moderno.

Tais capacidades de falar e escrever com clareza e concisão também exigem treino. Deve-se aprender com os autores que são capazes de influir sobre as camadas jovens da população, sem deixar de analisar criticamente suas abordagens e propostas. 

Não é necessário aderir a causas e formas com as quais não concordamos. Porém, é bom reconhecer o que é eficiente para comunicar ideias para mentes jovens.

É preciso que os comunicadores espíritas ajudem a entender melhor como os jovens estão se relacionando com a leitura e a literatura espírita. Também é preciso buscar novas estratégias para incentivar a leitura em um mundo cada vez mais digital.

Para incentivar a leitura entre os jovens espíritas e assegurar que os livros espíritas atendam aos seus interesses e dúvidas, as seguintes estratégias podem ajudar:

  1. Clubes de Leitura:
    • Organizar clubes de leitura nos centros espíritas, onde os jovens possam se reunir regularmente para discutir livros espíritas. Isso não só promove a leitura, mas também cria um senso de comunidade.
  2. Atividades Interativas:
    • Realizar eventos interativos como debates e workshops que explorem temas do Espiritismo. A interação pode ajudar a despertar o interesse pela leitura de obras indicadas.
  3. Redes Sociais:
    • Utilizar com mais habilidade as plataformas como Instagram e TikTok para promover desafios de leitura ou compartilhar resumos e opiniões sobre livros espíritas. Os jovens estão mais ativos nessas plataformas, o que pode ser uma boa maneira de engajá-los.
  4. Pesquisas de Interesses:
    • Realizar enquetes para saber quais tópicos são mais relevantes para os jovens. Isso pode ajudar a selecionar livros espíritas que realmente respondam a suas dúvidas e curiosidades.
  5. Listas de Leituras Sugeridas:
    • Criar listas de livros espíritas que abordem questões como ética, moralidade, amizade e questões existenciais sob a perspectiva espírita. Podem abranger obras de autores conhecidos e também novos escritores que falem diretamente com o público jovem.
  6. Apoio de Educadores:
    • Trabalhar com educadores e líderes espíritas para oferecer recomendações de leitura em aulas ou grupos de estudo, incentivando a leitura como parte do aprendizado.

 

Essas ações, alinhadas com a escolha cuidadosa de livros espíritas, não apenas promoverão o hábito da leitura, mas também fortalecerão a conexão dos jovens com os ensinamentos espíritas.